ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 04. 06. 1987.

 


Aos quatro dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e sete, reuniu-se na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Quinta Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à outorga do título de Cidadão Emérito ao Sr. Lino Augusto Schiefferdecker, concedido através do Projeto de Resolução nº 15/87 (proc. nº 1882/87). Às dezesseis horas e vinte minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a MESA: Ver.ª Teresinha Irigaray, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos da presente Sessão; Sr. Ivair Deinstmann, Presidente do Conselho Regional dos Escoteiros do Rio Grande do Sul; Eng. Antonio Carlos Hoff, Vice-Presidente da União dos Escoteiros do Brasil, Região do Rio Grande do Sul; Sr. Enio Tedesco, Governador do 467 Distrito do Rotary internacional; José Ledur, Presidente da Sogipa; Sr. Lino Augusto Schiefferdecker, Homenageado; Sra. Vilma Schiefferdecker, esposa do Homenageado; Verª. Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, a Sra. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Verª. Gladis Mantelli, em nome da Bancada do PMDB, comentou a importância do escotismo e sua evolução no mundo atual, destacando o valor do espírito de diálogo mútua transmitido aos seus integrantes. Falou sobre a trajetória seguida pelo homenageado em sua luta constante em prol da comunidade porto-alegrense. O Ver. Aranha Filho, em nome da Bancada do PFL, comentou os laços de amizade que o unem ao Sr. Lino Schiefferdecker, falando da época em que ele encontrava-se à frente do Rotary Clube - Porto Alegre - Nordeste. Disse que S.Sa. sempre destacou-se nos serviços em favor da população, salientando campanha empreendida pelo mesmo para angariar fundos para as sociedades beneficentes de Porto Alegre. E o Ver. Hermes Dutra, em nome das Bancadas do PDS e do PDT, discorreu sobre a vida do homenageado dentro do setor do escotismo, comentando a importância de S.Sa. para o desenvolvimento daquela agremiação em nosso Estado, referindo-se seu espírito essencialmente comunitário, cuja preocupação última é sempre servir ao próximo. A seguir, a Sra. Presidente leu correspondência alusiva a presente homenagem e convidou o Ver. Hermes Dutra e os lobinhos Maria Paula Azevedo Silva e Giovanni Gonçalves Pires a procederem à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Lino Augusto Schiefferdecker. Em continuidade, a Sra. Presidente concedeu a palavra ao homenageado, que agradeceu o título recebido. A seguir, a Sra. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento e, nada mais havendo a tratar, convidou as autoridades presentes a passarem à Sala da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, e levantou os trabalhos às dezessete horas e quarenta minutos. Os trabalhos foram presididos pela Verª. Teresinha Irigaray e secretariados pela Verª. Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, a Ver.ª Gladis Mantelli, pelo PMDB.

 

A SRA. GLADIS MANTELLI: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, Convidados presentes, caro Homenageado.

É uma honra, para mim, representar o meu partido, o PMDB, nesta solenidade, em que a Câmara Municipal presta merecida homenagem ao Dr. Lino Augusto Schiefferdecker, concedendo-lhe o título de Cidadão Emérito.

Nosso homenageado de hoje, entre todas as atividades que exerceu, dedicou grande parte do seu tempo ao escotismo.

O escotismo, nas palavras de seu fundador, Baden Powell, tem como objetivo “educar para a cidadania, ajudar os jovens a descobrirem suas identidades e aspirações, zelar pela preservação da natureza”.

No mundo em que vivemos hoje, com a evolução da ciência e da tecnologia, muitos sucessos temos alcançado, muitos avanços temos conseguido, no entanto várias questões estão fora do nosso controle: os problemas da infância desassistida, da velhice, do desemprego, da poluição ambiental, etc. Esses problemas fazem parte do nosso dia-a-dia. Nesta caminhada a sociedade em geral tem esquecido valores essenciais, na busca de metas egoístas.

O escotismo procura desenvolver e estimular nos jovens o espírito de solidariedade, a iniciativa e o trabalho em equipe, fatores estes que os fortalecem, lhes dão preparo para a vida adulta, e certamente contribuem para que, com maior clareza busquem sua identidade e suas aspirações.

Não seria possível, neste breve espaço de tempo, aprofundar-me nos objetivos do escotismo, mas julgo importante dizer que ele busca o diálogo, a construção, o auxílio mútuo e dentro destes ideais. Dr. Lino foi incansável trabalhador.

Difícil seria mencionar agora, toda a trajetória de nosso homenageado. No entanto devemos ressaltar seu incansável e permanente esforço em favor da comunidade. Tendo, em várias ocasiões de calamidade, prestado seus inestimáveis serviços.

Homem voltado para a natureza e sua preservação, também nesta área deu sua contribuição, tendo participado, da comissão que implantou o Parque "Saint’Hilare."

O Dr. Lino, quando conversávamos, hoje, no início da Sessão, não se lembrava mais de mim e eu comecei a minha vida de casada no edifício ao lado do dele. Ali, nossos filhos cresceram juntos e eu podia observar o trabalho do Dr. Lino e da Wilma em direção a todo esse trabalho que se faz ou que se coloca à disposição de uma sociedade no sentido de implantar valores, de se colocar conceitos que cada vez mais se perdem dentro da nossa sociedade tão agressiva em função do nosso ritmo de vida. Dr. Lino, agora, se recuperando de uma cirurgia cardíaca, está aqui tentando-se reordenar e eu lhe dizia que não se preocupasse, que isto é assim mesmo porque há dez anos atrás eu também fiz uma cirurgia cardíaca e lhe dizia que daqui para a frente ele irá ver a importância, mais ainda, daquilo que ele vinha fazendo. O trabalho é extremamente gratificante e Lino tem dedicado sua vida ao trabalho. A este tipo de trabalho, ao trabalho voltado à educação de jovens, esse trabalho ninguém tirará de Lino. Não importa o que venha a acontecer daqui para frente; Dr. Lino continuará sendo uma marca significativa dentro do escotismo.

Conceder ao Dr. Lino o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre é demonstrar reconhecimento desta Cidade a quem tenta servir. Está de parabéns o autor da idéia, Ver. Hermes Dutra, também os demais Vereadores desta Casa que acolheram a Proposição. Mais uma vez digo que me sinto honrada em poder falar em nome do meu Partido, homenageando alguém que não só conheço através de ouvir falar, mas alguém que tive a oportunidade de conhecer de perto. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Mesa tem a satisfação de convidar o Ver. Aranha Filho para falar ao nosso homenageado, em nome do PFL.

 

O SR. ARANHA FILHO: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Srs. convidados: é para mim um motivo de extrema alegria representar o PFL nesta homenagem que a Casa do Povo, a Câmara Municipal de Porto Alegre, presta ao cidadão Lino Augusto Schiefferdecker.

“Morris West.” Temos de criar ordem em nós mesmos e em nosso meio. Não devemos criar um tirano que a imponha por nós. Devemos ser justos por nós mesmos, justiça pessoal, justiça social, antes que reclamamos justiça dos outros. Temos de oferecer amor, primeiro, ainda que o amor com que nos retribuam seja menor que o que esperamos. É este o verdadeiro contrato social, sem o qual nenhum outro contrato pode substituir.

Senhoras e senhores, pesquisando o currículo do nosso homenageado, cidadão de caráter reto, que nos é familiar, em nome de minha agremiação política, PFL, constatamos uma imensa vida dedicada ao amor fraterno a justiça social e ao respeito à ordem social em que Lino Schiefferdecker caracteriza bem a sua dedicação cinqüentenária ao escotismo e ao seu clube de serviço, o nosso Rotary.

Para orgulho meu e de minha família, sabe bem o Lino que meu pai, durante a segunda década deste século, serviu lá na velha Itaqui como escoteiro. Melhor se beneficia quem melhor serve - é um dizer do Rotary, e no Distrito 467 do Rotary Porto Alegre Nordeste, Lino tem cem por cento de freqüência. Todas as segundas-feiras, desde 1958, Lino comparece ao nosso Nordeste dando um pouquinho de si para a causa maior de Rotary. E nos anos de 69 e 70 presidiu o nosso Nordeste. Nos Clubes de Rotary onde meu pai foi presidente e governador já tive também a honra de presidi-lo; é que desde a minha infância convivi com os critérios de justiça e de companheirismo desenvolvidos pelo nosso homenageado a quem dedico em meu nome pessoal e no de minha família, um grande respeito e admiração. Homem de múltipla formação universitária, o companheiro Lino é um dos destaques de atuação comunitária em nosso meio. É este o seu contrato social com a sociedade. Para materializar todo esse trabalho comunitário que dignifica a existência do nosso cidadão em prol da coletividade de Porto Alegre, fazemos referência a 3 importantes marcos: 1º) prestou relevantes serviços de socorro às vítimas da Grande enchente de Porto Alegre em 1941, atuando junto ao Corpo de Bombeiros. Me permitam narrar o segundo, fazendo-me valer pelo livro expedido pelo nosso clube Rotary Club Porto Alegre Nordeste, por ocasião de suas Bodas de Prata. “Por Dante: Lino o escoteiro presidente. Lino é o nosso Presidente, talvez poucas pessoas dentro do nosso círculo de relações tenham uma tão grande parcela de tempo dedicada a causa dos outros. Lino é um dos mais entusiastas propagadores do escotismo que conheço. É o principal, além de vender a doutrina, Lino pratica escotismo e lá temos ele, sábados e domingos, envolvido com a gurizada da Sogipa, sempre alerta. Agora, Lino é o nosso Presidente, aceitou para honra nossa a tarefa que depositamos nas mãos. Encontra tempo para tudo. Será por certo um grande Presidente do Nordeste. Lino lançou mais este desafio a si mesmo e será muito bem sucedido e para tal receberá todo o nosso apoio, basta Lino acionar o dispositivo e engrenagem da colaboração, começará certamente a funcionar, para isso estamos sempre alertas aguardando o chamamento do nosso escoteiro-Presidente ou Presidente-escoteiro.”

De Carlos Bento Hopffmeister: “O primeiro grande serviço comunitário realizado em comum pelo clube padrinho com seu afilhado...” Referindo-se ao clube Porto Alegre Norte e o afilhado Porto Alegre Nordeste - “...foi na gestão do autor a campanha do “Veraneio Feliz” e é justamente este segundo item que eu pinço, e foi exatamente no ano de 60, 61, portanto 27 anos atrás - Lançamos a idéia no Conselho Diretor Porto Alegre Norte a 10.08.1960 sendo noticiado no Boletim nº 95. No dia 12, o companheiro Lino, um dos fundadores do Porto Alegre Nordeste ao visitar o nosso clube foi consultado sobre a possibilidade da campanha em Projeto ser coorganizada também pelo clube, então presidido pelo companheiro Osvaldo Bruno Dietrich. Em novembro, a campanha recebeu a denominação de “Veraneio Feliz”, proposta pelo companheiro João Lauro Kliemann, membro do Conselho Diretor. A ação constitui uma cobrança de um pedágio filantrópico dos automobilistas que demandavam às praias do Atlântico, no quilômetro 1 da antiga rodovia estadual, entre Gravataí e Tramandaí. Iniciou a 23 de dezembro, antevéspera do Natal, e prolongou-se até o dia 28 de fevereiro. No posto do Pedágio foi armada uma tenda, revezando-se os rotarianos dos dois clubes em diversas comissões que se sucediam das primeiras horas da manhã até à noite. Os rotarianos foram eficazmente auxiliados pelos escoteiros do Grupo Jorge Blake, da SOGIPA, cujo Chefe era o companheiro Schiefferdecker. A campanha teve uma repercussão extraordinária e rendeu a notável quantia de um milhão, cento e setenta mil cruzeiros - em 1960 - realmente avultada para o valor da moeda da época. Dita importância foi rateada entre a SPAAN, o Hospital da Criança Santo Antônio e a Santa Casa de Misericórdia. Bons tempos aqueles que nos deixam agradabilíssimas recordações.” Valho-me, ainda, mesma consideração e o companheiro Osvaldo Bruno Dietrich, ao fazer um relato de sua administração, já que nessa ocasião foi efetivada a dita campanha do pedágio, disse que o sucesso da campanha do “Veraneio Feliz” deu o título, ao Lino, de General. Valho-me, ainda, da mesma matéria, para comentar que: (Lê) “A oportuna iniciativa do Rotary Norte e Nordeste, sabendo das constantes necessidades da SPAAN e do Hospital Santo Antônio, os rotarianos desses dois clubes resolveram se dedicar, nesses dois meses de janeiro e fevereiro, à campanha de angariar fundos para essas beneméritas instituições. Mãos à obra! Convocamos o nosso odontólogo e chefe dos escoteiros Dr. Lino Schiefferdecker para que juntos com os disciplinados e educados rapazes da turma de escoteiros assumisse a direção da coleta que se pretendia fazer. E assim, na última sexta-feira, do mês de dezembro, à tarde, iniciou-se a meritória e difícil obra. A tarefa consistia em solicitar uma contribuição de todos os veículos que demandavam as nossas praias marítimas, isto é, as sextas-feiras à tarde, sábados todo o dia e domingos.

O trabalho do Chefe Lino, convicto dos ideais de Baden Powell e Paul Harris, ao lado dos seus rapazes escoteiros foi exemplar em todo sentidos. Este grupo estava instalado em barracas, ao lado da estrada na saída de Gravataí, com o beneplácito e cooperação polícia Rodoviária. Conseguiram um resultado extraordinário, foi arrecadado acima de 1 milhão de cruzeiros. Em fins de março esse valor foi encaminhado para as duas instituições acima mencionadas. Os comentários dos escoteiros eram divididos; eles preconizavam: os autos de luxo a coleta era a mínima; calhambeques, fuca e fordeco eram o que mais rendiam.”

Mas faço esses registros para comentar, para não deixar passar em brancas nuvens, meu caro homenageado, o grande valor de sua obra e por um passe de mágica no início desta Sessão, às 14 horas interrompemos a mesma para iniciar a Homenagem do Dia da Ecologia que esta Casa, a Casa do povo estava homenageando, portanto, o Meio Ambiente. Diversos oradores se pronunciaram e fizemos amplas referências a tudo aquilo que o cidadão Emérito de Porto Alegre - que hoje recebe- faz desde os primeiros dias sua existência.

Em terceiro item que pudemos pinçar é que, em 1983, o nosso homenageado recebeu da Prefeitura Municipal de Porto Alegre o diploma de “Protetor do verde público”. Comunico, ainda, meu caro Lino que neste final de semana a minha filha estará numa excursão do Colégio Farroupilha no Acampamento Lino Schiefferdecker. Quando veio a papelama do Colégio Farroupilha para eu dar autorização, eu o assinei com o maior prazer porque tenho certeza de que lá ela verá o que existe de mais bonito e guardará certamente uma recordação inesquecível.

Finalizando, resumimos e exemplificamos o viver sempre alerta de Lino Schiefferdecker e queremos parafrasear o Presidente Roosevelt, dizendo, liberdade sem ordem e ordem sem liberdade não merecem ser vividos.

Mas ao lado de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Parabéns Vilma, parabéns Lino. Sou grato.(Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Hermes Dutra que falará em nome das Bancadas do PDS e do PDT nesta Casa, autor da proposição.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Srs. convidados, é do protocolo, meu prezado Lino que, pelo menos o Autor da Proposição, faça um discurso escrito, meditado e o traga para ler neste dia. Até não me seria difícil, mas entre escrever um discurso na frieza de uma escrivaninha e deixar que as palavras brotem ao sabor do coração - porque para os amigos falamos com o coração - preferi não escrever meu discurso, deixando que a emoção do momento, com a ajuda de Deus, consiga fazer com que eu transmita o que sinto.

Em primeiro lugar, um registro, por dever de justiça. O Regimento Interno não nos permite mais de um o autor para um projeto. Este projeto não foi um projeto de duas mãos, mas, sim, de quatro mãos. Ele surgiu de um diálogo com o ilustre Ver. Aranha Filho, seu companheiro de Rotary, como eu, onde convivemos, conhecemos tua família, teus filhos, e sabemos o quanto tu representa à comunidade de Porto Alegre.

Falar do Lino é desnecessário. A maioria o conhece. Já conviveram com ele, já viveram bons momentos e talvez alguns até tenham passado algumas dificuldades com o Lino. O Lino, para mim, é aquilo que magistralmente Gabriela Mistral escreveu: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. O Lino é um homem que vive para servir. Não o conheço há muito, apenas há vinte e um anos, desde que o vi, pela primeira vez, quando, acanhado desembarquei timidamente de um trem, com uma mochila nas costas, a fim de fazer um curso de chefia no Parque “Saint Hilare”. Lá, era um dos diretores daquele curso o Lino, juntamente com José Machado que certamente gostaria de estar aqui, hoje. Ali vi esse homem, pela primeira vez, que tinha no falar e no olhar um certo magnetismo, que preconcebia transmitir aos que tinham o privilégio de ouvi-lo, o quanto de bom tem o escotismo e o quanto de dificuldade enfrenta para ir adiante.

Em seguida, vim morar em Porto Alegre e, a partir daí, a minha convivência com o Lino se estreitou a ponto de termos laços, hoje, certamente bastante afetivos.

O Lino é um homem que, para que vocês tenham uma idéia, certa vez tínhamos uma reunião de Diretoria e o Lino deveria estar, e não chegava. Meia hora de atraso para o Lino, alguma coisa estava errada. Telefonamos para a casa dele, e havia sido seqüestrado, por isso tinha se atrasado. Foi seqüestrado por dois marginais que na semana seguinte seriam mortos pela polícia, porque os dois facínoras, dos mais perigosos de Porto Alegre, e obviamente, foi grande a nossa curiosidade em saber como o Lino tinha conseguido sair dessa. E ele nos contava; pelas tantas, disse que um deles, permanentemente com um revólver, calibre 38, encostado em seu coração lhe disse: “bom velho, deu pra ti”. E nós perguntamos e daí Lino o que fizeste? “Rezei, e fiquei esperando”. Este é o Lino.

Mais recentemente, estávamos em Curitiba participando de uma reunião ordinária do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, e lá no fundo estava o Lino brabo, porque o orador estava dizendo coisas com que ele não concordava. Isto enchia a nós de preocupação pois ele deveria estar em casa, descansando, pois estava com um monte de pontes de safena no coração. E o Lino foi a Curitiba, porque dizia que sendo Conselheiro, e o Conselho só se reúne uma vez por ano, e ele não podia faltar, para preocupação da Wilma e nossa que a toda a hora acorríamos a ele, preocupados com a sua saúde, pois a pouco havia saído do hospital.

O Lino é daqueles, daquela história americana disseminada pelo mundo inteiro da “Mensagem a Garcia” que se diz que se dá uma tarefa a uma pessoa e ele não pergunta, absolutamente, nada, o Lino é daqueles que se a gente telefona para ele e diz: amanhã nós temos que fazer uma palestra ao meio dia, lá em Cutunduva e ninguém pode ir. Você pode Lino? Ele faz uma observação - e dá para chegar no horário, ainda?

O Lino é um homem que consegue viver longe da família e com a família, porque se perguntarmos a onde está o Lino no sábado, ele não está em casa; no domingo ele está dando um curso no interior. Na segunda-feira, e Aranha lembrava, ele está no Rotary, que não falta nunca, cem por cento, ainda é dentista e até há pouco trabalhava no INPS. E vive com a família. É um homem da família! Com a sua companheira, a Wilma, com seus filhos, todos eles dedicados ao Movimento Escoteiro. O Lino conseguiu fazer aquilo que muito de nós, principalmente os políticos, na maioria das vezes, não conseguimos, que é conciliar as duas coisas.

O Lino, no movimento escoteiro, se você chegar na nossa Sede Regional, na Galeria dos ex-Presidentes, está a foto do Lino. Ele foi Presidente. Se vocês forem a São Francisco de Paula, lá tem um sítio de dois hectares pertencentes ao Grupo de Escoteiro da Sogipa, a placa, o nome é, Dr. Lino Augusto Schiefferdecker.

O Lino, já disse para ele uma vez, corre o risco de ser preso um dia, na Alfandega, por portar sementes, porque a onde a gente vai o Lina está colhendo para plantar, ou em S. Francisco de Paula ou no Parque “Saint Hilare”, porque ele é um semeador. Vive com os bolsos cheios. Em Belém, em uma oportunidade, me lembro, uma vez, saímos desesperados procurando um saquinho de leite para evitar que ele colocasse semente de manga, que não são pequenas, nós sabemos, nos bolsos para trazer para o Rio Grande do Sul, para poder plantar.

E quis Deus, por uma coincidência, que esta Sessão, esta homenagem, caísse no dia dedicado ao meio ambiente. E devo confessar que não foi de propósito, entre os compromissos que a Casa tem, entre as Sessões que faz, esta foi marcada, de comum acordo com o homenageado, com a disponibilidade da Casa, com a disponibilidade das Bancadas, o dia de hoje. E coincide de cair no dia do meio ambiente. E o Lino, por ser um semeador, é um homem do meio ambiente. Foi uma coincidência feliz, mais uma das tantas que passa pela tua vida.

O Lino é um homem que não tem tempo para fazer o que se pede a ele. Pode, eventualmente, dentro das limitações físicas que cada um tem, efetivamente, não poder realizar tudo que se pretende, mas dentro destas limitações humanas que todos nós temos, tem-se mostrado ao longo desta já longa caminhada, um homem do servir. A tal ponto, inclusive, que até há gente que diz que Lino é um museu vivo, agora, museu vivo bem interpretado, não pela idade, mas por tudo que adquiriu ao longo desses anos em matéria de Movimento Escoteiro e está ali, vivo, transmitindo e mostrando. Nós até já pensamos de, na sua impossibilidade física, fazermos aulas gravadas em videotape para poder levar o seu conhecimento mais adiante. Até por que o Lino já, hoje, safenado, fatalmente não terá a mesma disponibilidade daquelas longas e cansativas e dispendiosas viagens. Só quem milita no Movimento Escoteiro, sabe que além do ideal e boa vontade tem-se que colocar a mão no bolso com muita facilidade, porque o nosso movimento é um movimento essencialmente voluntário. O Lino nunca se queixou disto e não é um homem rico. É um homem que trabalha um monte de horas por dia para poder dar o conforto que deu e o estudo que conseguiu proporcionar a seus filhos e fazer da sua atividade alguma coisa a mais do que a realização material. Fazer, sim, a realização pessoal sua e dos seus e, com isto nos transmitindo verdadeiras lições de amor.

Ao longo desses anos em que conheço o Lino e a Wilma nunca o vi desesperançado. É impressionante, principalmente, nos dias de hoje em que a esperança, esta porta da felicidade humana, para quem nela acredita, está já um pouco cerrada e, lamentavelmente, poucos crêem, o Lino é essencialmente um otimista. Um homem que com todas as dificuldades que vê e que vive não abre mão, nunca, de que o amanhã será melhor. Talvez lembrando a grande lição que Baden Powell numa de suas mensagens conseguiu sintetizar numa frase o que cada um de nós deve efetivamente fazer. Baden Powell nos disse que procuremos deixar o mundo um pouco melhor do que o encontramos. Esta frase encerra uma lição, um conteúdo filosófico muito grande. E ela, certamente, é o apanágio das ações do Lino.

Mais e mais eu poderia falar do Lino, da sua ação, ou mostrar o seu longo currículo, do que fez, do que participou, porque assim como ele vai a Tucunduva fazer uma palestra, ele no outro ano vai à Noruega assistir a um Jamboree. Faz uma economia forçada e danada para ir, mas vai, porque acha que é obrigação sua. E o Lino tem outro detalhe que, aliás, o Ver. Aranha Filho comentou no seu discurso. Eu não conheço o Lino sem a Wilma, porque estão sempre juntos. Ambos são chefes de escoteiros com a mais alta graduação em termos de adestramento no Rio Grande do Sul. Ambos dirigem cursos, transmitem conhecimentos e aonde um vai o outro também vai. Ou, quando não, é porque está dando curso em outro lugar, o que é impossível o fator da onipresença.

Eu acho que estas duas vidas, do Lino e da Wilma, é, na verdade, uma simbiose de uma vida só, uma vida que gerou filhos e que consegue deixar na história por anda passa, no Escotismo, no Rotary, em tantos outros caminhos que percorre, nessa busca incessante do servir, o Lino está conseguindo deixar para os seus pósteros o orgulho de terem vindo desta união.

Esta Casa é uma Casa Legislativa e, aqui, estão representadas as mais variadas tendências. É a representação da sociedade que aqui toma assento através de eleição. E, quando nós homenageamos uma pessoa, obviamente que cada homem em busca salientar este ou aquele aspecto. E é normal, não é de estranhar as grandes homenagens de figuras nacionais, figuras exponenciais no campo econômico, no campo social, no campo político.

Mas a Casa, às vezes, peca, porque não lembra daqueles que, no dia-a-dia, ajudam a construir este Brasil. Felizmente, de uns tempos para cá, nós temos observado que se procura resgatar esta dívida para com a Cidade, e esta passou a fazer algumas homenagens para as pessoas simples, com o Lino, mas cujo exemplo de amor e gratidão é, seguramente maior do que a melhor figura nacional na área política, na área econômica e na área da comunicação. Porque é muito fácil de fazer o bem, quando se tem luzes, “flashes”, automóveis, recursos e tudo à sua disposição; o difícil é fazer o bem, quando se sabe que amanhã ninguém lembrará do que fazemos; é difícil fazer o bem, quando temos que contribuir com o nosso próprio bolso para isso; é difícil fazer o bem, sabendo que da mesma forma que a sociedade hoje, eventualmente, reconhece o bem que fazemos, amanhã nos pagará com a ingratidão do esquecimento. Fazer o bem, nestas condições, é difícil. E estes que o fazem devem ser por nós mostrados, homenageados, para que sirvam de exemplo para outros neles se espelhem e consigam ver que, apesar de tudo, ainda há lugar para o amor, para o trabalho, para a dedicação e para quem vive procurando fazer pelos outros, e não somente para si.

Nesse sentido, Lino, é que nós queremos que tu recebas esta homenagem; homenagem da Casa de Porto Alegre, aprovada por unanimidade pelos Vereadores. Todos depositaram o voto de concordância em que recebesses o título de Cidadão Emérito. E a Galeria dos Cidadãos Eméritos da Cidade hoje se engalana com mais esta aquisição; a aquisição de um escoteiro, de um rotariano, de um pai de família, de um bom marido, de um bom dentista, de um bom funcionário público, enfim, de um bom homem, que nada mais fez, durante toda a sua vida, do que mostrar que nós estamos por obra de alguma coisa a mais do que uma simples união de um homem e uma mulher, mas estamos todos aqui com uma missão a desenvolver, e esta missão só conseguirá ser bem sucedida, na exata medida em que tivermos a capacidade de agir com amor, com dedicação e, sobretudo, servindo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Dentre as inúmeras comunicações e mensagens que a Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu, por essa homenagem que está sendo conferida ao nosso homenageado, Lino Augusto Schiefferdecker, destacamos os dois telegramos.

“Cumprimentamos o ilustre Líder escoteiro pela merecida outorga do Título de Cidadão Emérito que faz a Câmara Municipal de Porto Alegre, Alceu Collares, Prefeito Municipal.”

“Agradecendo o convite recebido, transmitimos ao Cidadão Emérito Lino Augusto Schiefferdecker, os nossos cumprimentos. Cordialmente Pedro Simon, Governador do Estado do Rio Grande do Sul.”

Pedimos agora ao Plenário que, de pé, assistamos à entrega do título ao nosso homenageado que será entregue pelo proponente, Ver. Hermes Dutra, juntamente com os lobinhos Maria Paula Azevedo Silva e Geovani Gonçalves Soares.

 

(O Título é entregue ao homenageado.) (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Um momento de emoção viverá o Plenário ouvindo a palavra do nosso querido e ilustre homenageado que fará uso da palavra na saudação à Casa do Povo de Porto Alegre. A tribuna é sua.

 

O SR. LINO SCHIEFFERDECKER: Ver.ª Teresinha Irigaray, 1ª Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos mas já amigos de longa data, porque a Dra. Teresinha é também do Conselho Fiscal da União dos Escoteiros do Brasil no Rio Grande do Sul, Sra. Vilma Schiefferdecker, minha querida esposa que me acompanha desde os tempos nos fogos de conselho quando ela tinha 15 anos e eu 18, a gente cruzava um olho de boi, uma piscada; Dra. Ivan Deinstmann, Pres. Do Cons. Regional dos Escoteiros do Rio Grande do Sul que muito apoio tem dado a outros trabalhos da região, como é o caso da tentativa de reconquistarmos as nossas terras em Itapeva; Dr. Antônio Carlos Hoff, Vice-Presidente da União dos Escoteiros do Brasil, Região do Rio Grande do Sul, um guri novo, mas destes que tem a fibra no sangue e sabe o que quer e aprendeu que o movimento também precisa de uma infra-estrutura para poder ir avante; Sr. José Ledur, muito digno Pres. Da Sogipa, a casa que me acolhe desde 19 e ...(risos). Acho que quando a cegonha me trouxe, ela passou pela minha casa e me deixou dentro da SOGIPA, porque das primeiras coisas mais agradáveis que me lembro é nesta casa que nosso amigo Ledur hoje nos dá esta segurança de sua liderança como Presidente.

Ver.ª Gladis Mantelli, 1ª Secretária da CMPA, minha querida vizinha e companheira de cardiopatia; meu amigo - não mencionado até aqui por engano e esquecimento - Dr. Paulo Alencastro, M. D. Presidente do Cantegril Clube, uma das entidades que tenho a honra também de participar e contribuir com o meu trabalho. Do velho escoteiro de Itaqui, que fez uma jornada a pé a Porto Alegre, com mais dois companheiros, o meu antigo companheiro de clube e pai do Martim Aranha Filho, uma palavrinha que diz muito do sentimento gaúcho: “Tropeçaram na minha amizade e caíram dentro do meu coração.” Acho que esta frase diz muito do nosso sentimento de gaúcho, da nossa posição social, do nosso trabalho e da nossa participação. Eu não tenho a facilidade do verbo, como o nosso querido companheiro Ver. Hermes Dutra, que possui a facilidade de falar de improviso, mas eu escrevi um improviso aqui, para não fugir muito de algumas idéias que gostaria de trocar com vocês.

Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus, o Senhor Criador de todos os Universos por esta magnífica oportunidade de estarmos aqui, em família, meninos que agora estão ingressando no movimento escoteiro, crianças que são o futuro do mundo, e nós, velhos irmãos escoteiros que já estamos mais pra lá do que pra cá, mas que Deus permitiu nos reuníssemos numa alegre reunião como esta que o protocolo, um pouco rígido e severo, da Casa, não impede que nos sintamos em família. Me desculpem se fujo um pouquinho e procuro tornar a nossa comunicação menos formal e mais familiar. Eu peço a Deus que continue iluminando todos os nossos pensamentos no sentido de construirmos juntos um país melhor e uma humanidade que se respeite mais, mutuamente, onde haja uma verdadeira justiça entre os povos, na oportunidade dos mais fracos também serem felizes.

Vou tentar, assim, com reflexões e leituras, uma pequena retrospectiva neste agradecimento que faço às autoridades municipais, mas também a vocês, lobinhos, escoteiros, pais de escoteiros, e familiares que estão aqui presentes. A egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre houve, por bem, com iniciativa dos Vereadores Hermes Dutra e Martins Aranha Filho, conceder-me esta homenagem. Mas, realmente, quero dizer a vocês todos presentes e não presentes, mas que de uma maneira ou outra participaram da minha vida. Esta homenagem não me pertence, mas esta homenagem deve-se a pessoas ou grupos de pessoas, assim como vocês, que influenciaram e que continuaram influenciando, ainda, a nossa maneira de ser. Dessas influências resultaram, talvez ações que, de uma forma direta ou indireta se tornaram de utilidade para a Comunidade, mas principalmente para a juventude. E o mérito não é meu, mas principalmente de vocês todos, presentes e ausentes. Por isto eu digo: ao serviço, à boa ação, ao ideal, ao entusiasmo, eu peço a vocês, uma salva de palmas.

(Palmas.)

O homem é um produto do meio. O homem pode dominar o meio, pode criar situações de condições e domínio do meio e modificação do meio-ambiente, para a sua melhor comodidade, para a sobrevivência, mas ele é um produto do meio, tanto do meio físico como do meio social. Entre o meio social, vários grupos de pessoas influenciaram no nosso ser, hoje, com erros, defeitos que são próprios da matéria, mas com a coleta, com o pinçar de modelos de exemplos de vários grupos sociais, e aquele grupo social que mais me tocou, e que primeiro me tocou, foi exatamente a minha família. Tive a ventura de ter pais que foram exemplo de dedicação e de trabalho. Herdei a pertinácia de ser útil, porque a semente cai perto da árvore. De meus irmãos recebi continuamente uma amizade pura e um apoio em todas as horas. Mesmo, às vezes, sacrificando as tarefas da família com a minha saída no Escotismo, eles proporcionavam um apoio, uma boa vontade no sentido de que eu continuasse participando porque achavam que, também, era uma tarefa bonita o trabalho que nós estávamos realizando.

A esposa, Emérita, somos Eméritos - o Hermes falou é ao Casal - e com muita propriedade, desde os seus 15 anos ela me acompanha, primeiro de longe, ao largo, depois noivamos e tivemos três filhos. Os filhos são as minhas vaidades só me trouxeram alegrias e, provavelmente, vão me proporcionar netos escoteiros, se Deus quiser.

Grupo de influência, heróis anônimos e mal pagos, os meus professores primários do velho Grupo Escolar Higienópolis - já extintos há muitos anos - do Colégio Paula Soares, da Escola Normal, do Colégio Rosário, responsável por estabelecer os critérios de valores sociais na infância e de afirmá-los na adolescência. Depois, talvez, cruzando os campos sem cercas nem alambrados de cima do Morro de Higienópolis, cruzássemos os Campos da Sogipa, então chamava Turnebunds Sociedade Ginástica. Em busca da Igreja São João para as Missas Dominicais e lá pelas 7 horas da matina os escoteiros saíam das barracas e impressionavam demais. Em 1934, nada havia para atrair a juventude em Porto Alegre, esses chefes escoteiros que me acolheram no seu meio, os irmãos mais velhos, despertaram em mim o verdadeiro amor à Pátria, pela boa ação diária, pelo serviço ao próximo como um dever e direito de ser cidadão.

Em 1934, e eu me orgulho de estar aqui presente o homem que me deu os primeiros rumos na caminhada social, Professor Roberto Schultz, muito obrigado companheiro, eu não esqueci. Não sei se está presente o Arnaldo Wasnovosky foi o segundo Chefe escoteiro que eu tive. Este cidadão também me marcou. Se o Schultz me marcou por uma disciplina rígida, a busca de horários certos e determinados, o cumprimento da palavra empenhada, Wasnovosky numa ocasião em que estávamos acampados na Praia da Alegria, com mais taludinhos, de 14, 15, anos, já espichando a asa para as meninas que estavam na praia, tentávamos fugir do acampamento para freqüentar um bailezinho que se realizava na Praia da Alegria, ele nos chamou de lado e disse: “Olha, muito cuidado. Se uma menina cai ou se perde sempre ela foi provocada por um homem ou por um rapaz.” Como eu tinha irmã, isto me calou muito fundo e serviu para o meu comportamento em relação às moças e os ambientes sociais que eu freqüentei.

Dr. Luiz Teixeira, por 17 anos coordenador do escotismo gaúcho, pai do Paulinho aqui presente, foi uma daquelas pessoas sensatas e que souberam também indicar rumos para a minha vida, já como chefe escoteiro e como profissional.

Padre Maomar Idelweis, pensador, filósofo, dedicado psicólogo hoje em Minas Gerais, é para não dizer que eu me esqueci de vocês. Não me esqueci, deste e de muitos outros. Irmãos Faustino, Truma Palázios, Dante de Laitano e uma equipe toda de homens de gabarito como mestres universitários que exerceram influência como líderes de estudantes, impressionando a minha conduta. Amigos escotistas que ainda hoje e sempre se desfruta de uma amizade sincera, um disciplina consciente que nos anima a perseverar no ideal de servir e de ser útil dentro da busca dos caminhos da paz.

No Rotary encontramos uma motivação social para engajarmos em projetos do bem-estar social, continuando a cultivar o espírito de doação e de serviço que o escotismo soube despertar em mim. Nas ações das sociedades desportivas sempre encontrei amigos sinceros com os quais dividimos tarefas e responsabilidades para construção de infra-estrutura para os nossos filhos complementarem seu desenvolvimento social.

Entre os principais grupos sociais em que dediquei um pouco de mim, destaco: os conselhos, diretorias, quadro social e de funcionários da SOGIPA, do Catengrial, da Sociedade de Amigos de Cima da Serra, a UEB, por suas direções nacional e regional. Para fixar alguns detalhes, relembro demais antiga boa ação que me foi proporcionada. Foi na construção do Hospital Parque Belém, para tuberculosos, nos idos de 1936. Os escoteiros de Porto Alegre foram convidados para levantar os postes de iluminação. Num domingo de manhã, tomamos o bonde, outro bonde e chegamos até a Av. Cascata. Subimos e, no morro, levantamos três postes. Que luta! Mas cito isso para dizer que, já, naquele tempo, o escotismo praticava uma boa ação, de grande fundo social. Os escoteiros de hoje devem continuar imitando esses modelos de ontem. Não apenas levantando postes, mas em outras atividades em que podem-se envolver em campanhas com a comunidade, levando algo de útil, na prática diária. As campanhas de vacinação em que nos engajamos são exemplos. Em 1941, já citou um dos nossos oradores que nos precederam, nós, em lancha de bombeiros, com os outros escoteiros, íamos nas ilhas, as pessoas em cima dos telhados e recolhíamos nas lanchas de bombeiros. Lembro de uma senhora, magra, gélida, com a roupa molhada, com um porquinho no colo e quem dizia que conseguíamos tirar o porquinho dela, que dizia: “este porquinho é meu, é a minha família”. Essas coisas, também, marcam.

De todas estas vivências dentro do escotismo, Rotary, e nas sociedades culturais, sociais e desportivas, operando dentro das nossas limitações, concluímos que entre o nascer - porque nós somos porque nascemos e temos que enfrentar até o último ponto da caminhada que é a morte - e entre este, estes dois pontos o importante é o que conseguimos semear dentro dos corações dos jovens e amigos, que nos acompanham nesta curta jornada, para que continuem nessa missão, tornando-se cada um de vocês, também, um semeador.

E saibam que se vocês forem semeadores, este modelo terá um efeito multiplicador porque vai contaminar outras pessoas no ambiente que vocês vivem, para que elas também prestem serviços e aprendam a doarem-se aos outros.

“Participar e servir”. “Agir mais do que falar”

É o lema que sempre orientou nossas ações. Em todas as comunidades há os que servem. E há os que servem-se. Mas estes nós vamos deixar à margem do caminho, porque eles ainda atingiram aquele grau de maturidade.

Nós somos aqueles que servimos. Somos aqueles que nos doamos. Somos aqueles que semeamos. Porque ser útil é um privilégio daqueles que vêm a vida com a sensibilidade de um ser superior, mas com uma superioridade de vida humilde, diante da grandiosidade do universo em que vive.

O otimismo e perseverança na busca dos objetivos. Lembro de uma convenção rotária lembro um pensamento, a diferença entre o pessimista e o otimista. O pessimista encontra em cada oportunidade um problema, mas o otimista que são vocês, escotistas, rotarianos, vereadores, homens do povo, os otimistas encontram, em cada problema, uma oportunidade de servir. Porque, nada é nosso. No mundo é incrível, onde alguns alucinados brigam pelo poder, é sempre bom lembrar que nada é nosso. Tudo é finito. Tudo é apenas passageiro, como transitória e limitada é nossa capacidade de compreensão e de doação. Tudo o que ilusoriamente o usamos dizer que é nosso, nos foi emprestado pelo Pai Supremo. Apenas trocamos o nosso trabalho pela oportunidade de usar todos os objetos transitoriamente. Enquanto necessitamos desses bens materiais para a nossa vida simples e material. Em breve deixaremos tudo por aqui mesmo. E isso que deixarmos, talvez crie problemas aos que nos sucederem. E os bens que pretendemos deixar como motivo para uni-los, serão talvez tomados como ponto de desunião, tal é a crise de critérios e de valores que o Mundo atravessa. E nesse contexto todo o que somos? Alguém dizia: eu sou o que sou. Outro dizia: eu sou o que conquistei. Qual a repercussão da nossa passagem efêmera pela Terra? Essa é uma estação. Estamos numa viagem. Quando o tempo que nos envolve é contato a nível de eternidade, e as distâncias a nível de infinito. E o Universo que nem compreendemos, onde começa e onde termina, a onde a primeira estrela nasce e a última que aparece, esses espaços entre as estrelas são medidos em potências de olhos nus. O que somos nós que queremos conquistar só o poder? E, ainda, nos deparamos com os mesquinhos que só pensam no seu prato de amanhã, quando o sábio e milenar provérbio oriental, nos recomenda: “Que, se queres semear para o amanhã, planta couve, e se queres semear para um século planta uma floresta. Mas, se queres semear para toda uma eternidade, educa uma criança.” Assim, de acordo com as potencialidades de cada um, participamos das nossas capacidades e habilidades do serviço da comunidade e, em especial, da juventude. Assim, pelo nosso exemplo de conduta pessoal, autodisciplina, moderação e postura moral possamos transmitir às futuras gerações e aos que vierem nos suceder, um mundo mais humanizado, justo e fraterno. Essa juventude que irá nos suceder serão os nossos juízes do mundo que lhes transmitiremos, que será melhor ou pior. Então, que os nossos ideais sejam postos em prática; mãos à obra, companheiros. Há muito a fazer na missão do semeador.

Muito obrigado a todos que aqui compareceram para prestigiar esse ato que não é meu, mas, sim, mérito de cada funcionário de entidades, escoteiros pequenos que se engajaram na busca de aventura apenas, escotistas adultos que entraram na busca da responsabilidade de conduzir homens dentro daquela frase, célebre, de “é fácil a missão de conduzir homens, basta lhes indicar o caminho do dever”. Escotistas, líderes de comunidades, homens públicos, cerremos fileiras não apenas em palavras e idéias. Coloquemos nossos ideais em ação. Muito obrigado a todos. Muito obrigado a essa Egrégia Câmara que me outorga o Título. Deveríamos pôr em um liquidificador, num pulverizador esse Título, que aceito com o coração ardido por essas três pinguelas que tenho, mas gostaria de dividi-lo, pois vocês são os merecedores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Dizem que muito melhor que o encontro, na vida das pessoas, é o reencontro. E, nesta tarde, neste final de tarde, nesta nossa quase noite de Porto Alegre, neste nosso inverno que nós tão bem conhecemos, ouvindo os oradores que me antecederam e, principalmente, ouvindo o nosso querido homenageado, o reencontro emocionado da Vereadora que preside os trabalhos, lembrando a sua adolescência na frente da casa do nosso querido Luiz Alencastro, quando era Bandeirante e quando transitava para sua sede para em contato com as suas amigas Bandeirantes passar as tardes de sábado e domingo e nos seus acampamentos. E nos retrospectos sentimentais que sucederam na medida em que as palavras foram jorrando e foram fluindo daquela tribuna e onde adolescente, Bandeirante, transformou-se na mulher e seu filho escoteiro foi levado para o nosso querido Hoff ali no Passo da Pátria. Então, eram aquelas noites e aqueles dias de vigília, de espera e de inquietação e também de muita esperança naquilo que nós achávamos e ainda achamos até hoje que é o melhor para os nossos jovens que é o Escotismo. E, depois, privando da amizade e da companhia do nosso Líder Hermes Dutra dentro do movimento dos Escoteiros do Rio Grande do Sul, onde eu tenho a honra e o prazer e a satisfação de ser a Conselheira Fiscal no Rio Grande do Sul, aprendi a amar o Escotismo e a ele me ligam, individualmente, laços de fidelidade, de afetividade e de muita conscientização do que é este Movimento para todos nós. E, neste momento, eu fico muito feliz de poder estar aqui, na Presidência destes trabalhos, aquela adolescente Bandeirante, a Conselheira Fiscal do seu grupo, e poder homenagear este homem valoroso, este homem de estrutura, este homem que todos nós admiramos pela sua simplicidade, pela sua qualificação, pelo seu desprendimento, por ser o condutor, o pastor destas ovelhas maravilhosas, que é o nosso querido homenageado junto com a figura da sua esposa.

Então, neste momento, nós só podemos pedir que Deus nos guarde, que Deus nos ilumine, que Deus nos abençoe que nos conduza, porque a boa ação dos Vereadores transformou-se numa ação meritória, em dar este título a quem realmente merece, em dar o título ao rotariano, em dar o título ao chefe escoteiro, em dar o título ao general. Neste momento, nós ficamos muito felizes em dar o título, também, de Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre ao nosso homenageado. Muito obrigada. (Palmas.)

Nada mais havendo a tratar, estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h40min.)

 

* * * * *